19/12/2014

Carpinteiro da Esperança



“No princípio era a Palavra e ela estava voltada para Deus. Tudo foi feito por meio dela. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. Ela, porém, deu o poder de se tornarem filhos de Deus a todos aqueles que a receberam. E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória: Glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade”. (Cf Jo 1,1-14). Eis que a Palavra é Jesus Cristo. Ele veio para proporcionar vida, vida plena para todos. Nasce neste Verbo, como um verso singelo, um menino, frágil, pequeno, pobre e humilde. Em uma cantiga, naquela noite, ao longe se ouvia: num rancho de palha e barro uma criança dormia, à luz da estrela d’alva, sob o manto de Maria. Seria um tranquilo sono, ou um fermento de esperança?

“Toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz maus frutos. A árvore boa não pode dar frutos maus e a árvore má não pode produzir bons frutos. Toda árvore que não der bons frutos será cortada e jogada no fogo. É pelo fruto deles que vocês os conhecerão” (Mt 7,17-20). Quais são os frutos que encontramos na árvore do natal que vamos celebrar? É uma antiga tradição a de prepararmos a árvore de natal para festejarmos em nossas famílias e comunidades a chegada do Menino Jesus; ou seria do Papai Noel? Paro, por vezes, e me questiono, mas afinal qual é o natal que estamos celebrando? 

Nossos corações se alegram ao ouvirmos as canções natalinas, em saber que seremos presenteados e que também temos a oportunidade de fazer alguém feliz com o carinho de nosso presente, de nosso abraço, de nosso afago, de nosso sorriso. São momentos singelos, mas dotados de significado. Há quem prefira, porém, permanecer ofuscado entre os espinhos da árvore que cultivou em seu íntimo. E assim, celebra um natal marrento, com sorrisos hipócritas; como o fez Herodes, tentando enganar os magos, dizendo que também ele gostaria de prestar homenagens ao Salvador (Mt 2,1-12), quando na verdade buscava sua morte. Contudo, sempre prevalece a esperança que o espírito natalino transforme seus corações. Afinal, por vezes, sonhamos com tesouros mesmo não conhecendo as riquezas que escondemos em nossa essência. 

Somos também nós árvores natalinas? Ou seríamos apenas os luminosos adornos presos com frágeis cordões de linha? Seríamos o ranchinho de palha e barro, humilde, mas acolhedor? Talvez sejamos construtores, ou quem sabe lenhadores? Possíveis carpinteiros?! Quanta alegria, ser condutores daquele que aguardamos – Jesus Cristo. Quem me dera ser a manjedoura onde o colocaram ao nascer; talvez o barco em que seus discípulos pescavam, ou então o madeiro de sua cruz. Somos, hoje, os portadores de Jesus, mas será que sabemos disso? Percebo que somos, muitas vezes, como aquela fábula das árvores sonhadoras. 

Conta-se que três pequenas árvores, no alto de uma montanha, sonhavam como seriam depois de grandes. A primeira, olhando as estrelas, disse: gostaria de ser o baú mais precioso do mundo e viver cheia de tesouros. A segunda, olhando um riacho, suspirou: quero ser um navio bem grande para transportar reis e rainhas. A terceira, com os olhos no vale, expressou: desejo ficar aqui no alto da montanha e crescer tanto que as pessoas, vendo-me, levantem os olhos e pensem em Deus. Passados alguns anos as árvores cresceram. Porém, um lenhador, sem saber do sonho das árvores, as cortou. Com a primeira árvore confeccionou um cocho para alimentar os animais. Da segunda construiu um barco de pesca onde transportava pessoas e peixes todos os dias. A última foi cortada em vigas e deixada num depósito. Desiludidas as três árvores lamentaram os seus destinos. 

Mas, certa noite, com o céu cheio de estrelas, uma jovem mulher, acolhida num ranchinho de palha e barro, colocou seu bebê, recém-nascido, naquele cocho. De repente, a árvore percebeu que continha em seu interior o maior tesouro do mundo. Aquele barco, anos mais tarde, transportou um homem que acabou dormindo e uma tempestade quase o afundou, mas o homem levantou-se e disse: PAZ! Imediatamente as águas se acalmaram e a árvore, transformada em barco, entendeu que transportava o rei dos céus e da terra. Tempos mais tarde, numa sexta-feira, a última árvore espantou-se quando as vigas foram unidas em forma de cruz e um homem foi pregado nela. A árvore sentiu-se horrível vendo o sofrimento daquele homem. Mas logo entendeu que aquele homem salvou a humanidade e as pessoas logo se lembrariam de Deus ao olharem para a cruz.

Pensando no sonho das árvores eu me pergunto: que árvore há em mim? Que presentes estão depositados aos pés de nossas árvores? Peço com humildade de coração que Deus, em sua infinita bondade e amor, conceda-me a graça de ao menos conseguir conduzir as sementes das árvores à terra de meu coração. Que o Menino Jesus encontre, neste natal, um lugar aconchegante em nossa árvore. É Natal de Jesus, o Emanuel, Deus Conosco. Ele nasceu na Palestina, mas é presença real em nós. 

Ora, então é natal, pois se ouvem as cantilenas: naquelas longínquas terras, em Belém da Judéia, brotou do ventre materno, como a água surge da terra, um menino palestino com o coração divino e um amor incondicional. E aquele rancho tapera, mesclado com palha e barro aonde o guri nasceu, está cravado em nosso peito com o sinal santo de Deus. “Nosso coração arde quando Ele nos acompanha e explica as escrituras” (Lc 24,32). Um menino criado nos santos caminhos de Nazaré, na Galiléia. Entre seu povo, nossos irmãos, declamou como se fosse uma poesia, qual seria sua sina naqueles rincões dobrados. “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a sua unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4,18-19). Mas que bravura e honradez. Seria um Carpinteiro da Esperança, talvez? Feliz Natal! 



Por padre Leandro de Mello, Assessor Diocesano da Pastoral da Juventude.