Somos seres
históricos. Isso significa que somos inseridos e condicionados em uma realidade
com dimensões: social, política, cultural, econômica e religiosa.
Não estamos
sós. Fazemos parte de uma sociedade que tem uma organização própria e que
também apresenta seus problemas. A sociedade atua constantemente sobre nós e, se
não interagimos positivamente com ela, corremos o risco da delinqüência,
exclusão social e de sermos paralisados pelo pânico. Pânico de viver, pânico de empobrecer; pânico de perder o emprego, o
carro, a casa, as coisas, pânico de não chegar a ter o que se deve ter para
chegar a ser[1].
Nós atuamos positivamente sobre a sociedade na medida em que somos capazes de
elaborar projetos sócio-transformadores e colocá-los em prática.
Na
convivência entre as pessoas humanas estão presentes a busca do bem comum e as
relações de poder. Cada pessoa deve, a partir do exercício da cidadania,
assumir a dimensão social e política de sua existência, através do protagonismo
pessoal e da participação na construção do bem comum, utilizando, para esse
fim, todos os meios legítimos e lícitos que estiverem ao seu alcance.
Todos os
povos têm seu modo próprio de vida, seu modo de ser constituídos por valores e
tradições construídos ao longo do tempo. Esses valores e essas tradições
garantem a identidade de um povo e possuem sua legitimidade. Todas as pessoas
têm a responsabilidade de contribuir para que a cultura do seu povo torne-se um
caminho que conduza ao bem de todas as pessoas.
A crise da
modernidade e os problemas dela decorrentes afetam muito a vida das pessoas,
principalmente porque poucas entendem o que está acontecendo e, muito menos,
quais os novos rumos que podem ser tomados, o que faz com que se incomodem, mas
não procurem caminhos de superação. E enquanto isso, o mundo ao avesso nos
condena a padecer a realidade ao invés de transformá-la, a esquecer o passado
ao invés de escutá-lo e a aceitar o futuro ao invés de imaginá-lo ou de
reinventá-lo.
A crise da
modernidade não deve, portanto, ser confundida com o fim das utopias e da
esperança. Existem também aspectos positivos, pois começam a surgir sinais e
caminhos novos. A crise não significa a perda de valores e princípios. Eles são
como bússolas, que permitem caminhar sem se perder, mesmo diante de obstáculos
que exigem mudar de estrada. Mesmo que, em dado ponto, não existam estradas e
elas tenham que ser construídas, eles são referência e mostram que é necessário
levar a sério o dito: "é caminhando que se faz o caminho". Através das
lutas de libertação, dos gestos que criam estruturas solidárias e não
excludentes, da construção da organização popular é que, pouco a pouco, vai
surgindo e se delineando a sociedade nova. A valorização de experiências
transformadoras rumo a uma sociedade nova permite que a sociedade abra-se e
liberte o futuro. Não basta conhecer a realidade para poder transformá-la, é
preciso agir sobre ela e com ela.
Edivane
Rodrigues
Catequista
e acompanhante de jovens
Diocese
de Chapecó
Eduardo GALEANO, De pernas pro ar: a escola do mundo do avesso, p. 20.
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