02/05/2012

É caminhando que se faz o caminho


Somos seres históricos. Isso significa que somos inseridos e condicionados em uma realidade com dimensões: social, política, cultural, econômica e religiosa.
Não estamos sós. Fazemos parte de uma sociedade que tem uma organização própria e que também apresenta seus problemas. A sociedade atua constantemente sobre nós e, se não interagimos positivamente com ela, corremos o risco da delinqüência, exclusão social e de sermos paralisados pelo pânico. Pânico de viver, pânico de empobrecer; pânico de perder o emprego, o carro, a casa, as coisas, pânico de não chegar a ter o que se deve ter para chegar a ser[1]. Nós atuamos positivamente sobre a sociedade na medida em que somos capazes de elaborar projetos sócio-transformadores e colocá-los em prática.
Na convivência entre as pessoas humanas estão presentes a busca do bem comum e as relações de poder. Cada pessoa deve, a partir do exercício da cidadania, assumir a dimensão social e política de sua existência, através do protagonismo pessoal e da participação na construção do bem comum, utilizando, para esse fim, todos os meios legítimos e lícitos que estiverem ao seu alcance.
Todos os povos têm seu modo próprio de vida, seu modo de ser constituídos por valores e tradições construídos ao longo do tempo. Esses valores e essas tradições garantem a identidade de um povo e possuem sua legitimidade. Todas as pessoas têm a responsabilidade de contribuir para que a cultura do seu povo torne-se um caminho que conduza ao bem de todas as pessoas.
A crise da modernidade e os problemas dela decorrentes afetam muito a vida das pessoas, principalmente porque poucas entendem o que está acontecendo e, muito menos, quais os novos rumos que podem ser tomados, o que faz com que se incomodem, mas não procurem caminhos de superação. E enquanto isso, o mundo ao avesso nos condena a padecer a realidade ao invés de transformá-la, a esquecer o passado ao invés de escutá-lo e a aceitar o futuro ao invés de imaginá-lo ou de reinventá-lo.
A crise da modernidade não deve, portanto, ser confundida com o fim das utopias e da esperança. Existem também aspectos positivos, pois começam a surgir sinais e caminhos novos. A crise não significa a perda de valores e princípios. Eles são como bússolas, que permitem caminhar sem se perder, mesmo diante de obstáculos que exigem mudar de estrada. Mesmo que, em dado ponto, não existam estradas e elas tenham que ser construídas, eles são referência e mostram que é necessário levar a sério o dito: "é caminhando que se faz o caminho". Através das lutas de libertação, dos gestos que criam estruturas solidárias e não excludentes, da construção da organização popular é que, pouco a pouco, vai surgindo e se delineando a sociedade nova. A valorização de experiências transformadoras rumo a uma sociedade nova permite que a sociedade abra-se e liberte o futuro. Não basta conhecer a realidade para poder transformá-la, é preciso agir sobre ela e com ela.

Edivane Rodrigues
Catequista e acompanhante de jovens
Diocese de Chapecó
 Eduardo GALEANO, De pernas pro ar: a escola do mundo do avesso, p. 20.




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