Em tempos de 'guerra silenciosa', numa sociedade individualista e alienadora, é preciso mais reflexão, estudo e atitude perante os sinais. Francisco, bispo de Roma, ao escrever sua primeira exortação apostólica intitulada como 'Evangelii Gaudium' - A Alegria do Evangelho, nos alerta sobre algumas pontuações. Diz ele, que prefere "uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. E ainda, que não quer "uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos." (n.49).
O Evangelho do domingo, 02 de novembro, nos convidou a estarmos preparados e serenos para a hora em que formos chamados ao encontro com Jesus, mediante a prática da justiça. Dize-nos São Mateus: "Fiquem vigiando, pois vocês não sabem qual será o dia, nem a hora". Tendo em vista os sinais, que são muitos, e a mensagem que neste tempo o Evangelho nos trouxe, é preciso cumprir e vivermos o que claramente Ele nos diz. Fiquemos atentos, vigiemos, sejamos conhecedores e permitamos sermos conhecidos, mantenhamos acessas nossas lâmpadas, contudo, tendo clareza que não basta estarmos preparados esperando a vinda Dele. É preciso ousar, partir, arriscar, lançar-se à ação e à missão, para que os dons concedidos frutifiquem e cresçam. Foi confiado a nós todos e todas a propagação da mensagem de Jesus que é única e clara. É também pela fé em Jesus Cristo e pelo testemunho junto aos irmãos que seremos julgados. Mas, quem é, e onde está Jesus Cristo? Está identificado com os pobres, oprimidos e marginalizados por uma sociedade baseada na riqueza e no poder. Por isso, o julgamento será também sobre a realização ou não da prática de justiça em favor da libertação dos pobres e oprimidos. Esta é a atitude central da fé! São Mateus a apresenta como o cerne de toda a atividade de Jesus: "cumprir toda a justiça". Esta é a condição para participar da vida no Reino.
Ainda na primeira exortação apostólica, Francisco, afirma que "se a Igreja inteira assume este dinamismo missionário, há-se chegar a todos, sem exceção. Mas, a quem deveria privilegiar? Quando se lê o Evangelho, encontramos uma orientação muito clara: não tanto aos amigos e vizinhos ricos, mas, sobretudo aos pobres e aos doentes, àqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos, «àqueles que não têm com que te retribuir» (Lc 14, 14).” Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta mensagem claríssima. “Hoje e sempre, «os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho», e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos!" (n.48). E também, Ele nos inquieta a partir da carta escrita no encontro com os representantes dos movimentos sociais afirmando claramente que "não é possível abordar o escândalo da pobreza promovendo estratégias de contenção que unicamente tranquilizem e convertam os pobres em seres domesticados e inofensivos. Como é triste ver quando, por trás de supostas obras altruístas, se reduz o outro à passividade, se nega ele ou, pior, se escondem negócios e ambições pessoais: Jesus lhes chamaria de hipócritas."
O caminho para a atuação pastoral da igreja é claro e único. Foi apontado primeiramente por Jesus e até hoje, mesmo que com muita resistência, é anunciado por muitas e muitos que lutam por uma Igreja pobre e para os pobres. Na carta construída a partir do encontro com representantes dos movimentos sociais, o Papa afirmou ainda o que muitos sentem: "Não se entende que o amor pelos pobres está no centro do Evangelho. Terra, teto e trabalho são direitos sagrados. Reivindicar isso não é nada raro, é a doutrina social da Igreja”. Compreendamos, e além de compreender, vivamos isso que Cristo nos disse e que Francisco nos chama a viver. E, somente a partir disso sentiremos "o vento da promessa que aviva a esperança de um mundo melhor. Que esse vento se transforme em vendaval de esperança", que sejamos nós a face de Cristo, que tenhamos em nós os mesmos sentimentos que Ele tinha. Este, é também o meu desejo.
Estejamos atentos aos sinais dos tempos para perceber os apelos do Senhor e nos movermos sempre na direção do Reino, dos pobres, da doação da vida para que a vida seja verdade plena para todas e todos.
Por Eduardo Nischespois Scorsatto.
Contribuição de Cladilson Nardino, Fabiane Cristina Feltes e Luis Duarte Vieira.