03/03/2017

Carta do 12º Acampamento da Juventude da Romaria da Terra


Nós, 620 jovens de pastorais e movimentos sociais populares de todo o Rio Grande do Sul, reunidos no 12º Acampamento da Juventude, dentro da programação da 40ª Romaria da Terra, afirmamos que “preferimos morrer lutando do que morrer de fome”. 

Estamos reunidos no assentamento do MST na Fazenda Annoni, terra de Rose, marco da retomada da luta pela terra. Foi aqui, numa noite de lua cheia, na madrugada do dia 29 de outubro de 1985, que 7,5 mil pessoas ocuparam um dos maiores latifúndios desta região. Os jovens protagonizaram aquele momento e seguem nas lutas hoje. Aqui se construiu uma amostra de reforma agrária concreta, com organização da produção e com participação dos jovens e das mulheres. Vivenciamos a organização e a luta, suas potências e suas dificuldades. Nós somos lutadoras e lutadores, filhas e filhos de uma história de luta, herdeiras e herdeiros de compromissos como a transformação da realidade e com a construção de mais vida e vida em abundância. 

Este acampamento é a experiência concreta que mostra que a unidade das organizações que querem um mundo melhor existe e continua sendo uma necessidade ainda nos dias de hoje, especialmente quando somos chamadas e chamados a resistir a tempos em que nos golpeiam e que querem nos fazer crer que não há mais futuro. Afirmamos que a unidade dos pobres, das trabalhadoras e dos trabalhadores, continua sendo a principal estratégia da ação libertadora. Continuamos acreditando que ninguém mudará o mundo por nós, que ninguém liberta ninguém e que nos libertamos em comunhão. Por isso, seguimos acreditando que somente a organização e a luta que forjam a unidade das trabalhadoras e dos trabalhadores é que produzirá as transformações necessárias para construir o projeto popular.

Estamos aqui e afirmamos com força que não aceitamos o governo golpista e ilegítimo, repetimos com milhões de brasileiras e brasileiros: “fora Temer”. Não aceitamos retrocessos nas conquistas e o desmonte dos direitos que vieram de muita organização e luta: “nenhum direito a menos”, “nenhum camponês sem terra, nenhuma família sem teto, nenhum trabalhador sem direitos” (Papa Francisco). Não aceitamos pagar a conta do ajuste fiscal com a redução de direitos e somos contra todo tipo de austericídio. Não aceitamos a reforma da previdência que penaliza as trabalhadoras e os trabalhadores e especialmente as mulheres. Não concordamos que a educação é neutra e somos contra a proposta de “escola sem partido” e a reforma do ensino médio. Somos contra o machismo, o racismo, a homofobia, o patriarcalismo, o feminicídio e todos os fundamentalismos. Enfim, somos contra o projeto neoliberal, que de novo nada tem, pois apresenta as mesmas propostas que só atacam os pobres e a classe trabalhadora. 

Estamos aqui porque acreditamos que ainda há lugar para um outro mundo possível, que estamos num tempo em que precisamos resistir e também dar passos na construção do projeto popular para o Brasil. Por isso é necessário seguirmos na organização e no fortalecimento da luta da classe trabalhadora. Sabemos que nunca foi e seguirá sendo uma tarefa que não é fácil, pois temos muitas contradições que ainda precisamos superar, temos muito a aprender. Mas estamos confiantes que este é o caminho e que o faremos caminhando, na construção da utopia, de uma sociedade nova que promova a diversidade e a pluralidade e que afirme o protagonismo das mulheres e dos jovens. 

Em tempos sombrios, fizemos o sol brilhar, mesmo em dia de eclipse, e afirmamos com coragem que nosso compromisso segue sendo com a construção de um mundo no qual caibam todas e todos. 
Somos jovens, seguirmos nos organizando. Seguiremos juntos, em luta!

Pontão, RS, 27 de fevereiro de 2017.