A Semana da Cidadania (SdC) deste ano, provoca para uma compreensão mais ampla da saúde. Três grandes eixos dão base a essa temática: a saúde, a agricultura e os direitos. Saúde: discutir a questão da saúde é retomar a história do povo de Deus. Olhando para o contexto de Jesus percebemos que os leprosos (ou pessoas assim consideradas), deveriam andar pelas ruas gritando que eram impuros, se afastando das pessoas “puras”, sem doença – eram considerados pecadores. Jesus provoca uma ruptura com essa mentalidade, Ele toca nas feridas, cura os leprosos, a vida é prioridade; vida digna e vida em comunidade. Hoje, pobreza social é um grande pecado. Um pobre não tem acesso aos meios de saúde, e muitas morre em sua própria casa, vítima do mau atendimento ou mesmo do não atendimento em locais públicos.
Além disso, é preciso valorizar a medicina alternativa, por exemplo, os chás. É o cuidado da vida, da saúde através da natureza e menos de remédios manipulados, que respondem a muitos interesses capitalistas e exploradores – uma complexa ‘indústria da saúde’. Enfim, precisa-se compreender a saúde como algo mais amplo do que a simples ausência de doença, mas também como símbolo de inclusão (e não de exclusão), de igualdade, de direitos, de cidadania e participação popular nas gestões, de atuação de todos, inclusive de nós jovens. Esta deve ser também uma de nossas bandeiras!
Agricultura: ao tratar da agricultura somos levados a pensar em vários temas mais amplos, tais como: o agrotóxico versus o natural/orgânico, as pessoas sem-terra versus o latifúndio/agronegócio. E dentro dessas configurações somos chamados a tomar uma posição. Ao olhar a história, percebemos que o homem sempre buscou a evolução, o conforto, mais facilidades, bem estar. Nessa evolução o que mais se destacou foi a busca pela tecnologia e esta atingiu diretamente a agricultura. Trouxe benefícios, porém, gerou grande redução da mão de obra no campo, ou seja, o desemprego, a pobreza, o êxodo rural, as grandes favelas; implantou o uso dos agrotóxicos, o causador de muitas doenças por intoxicação, e da falta de produtos saudáveis/naturais. Esse bem estar trouxe consigo muito mais prejuízos para a humanidade do que crescimento.
São muitas questões sérias que precisam ser repensadas em nosso cotidiano. Além disso, o conflito social sem-terra versus latifúndio e agronegócio, é uma denuncia clara do mau modelo econômico, é necessário que se diga que um pequeno agricultor é um sem-terra diante de um latifundiário, e que tem mínimas condições de enfrentar a luta desigual com o agronegócio.
Direitos: tratar de direitos é tratar de cidadania. O termo designa o conjunto de direitos que toda pessoa, ou seja, todo cidadão, tem em sociedade. Mas a cidadania implica o exercício desses direitos, isto é, requer uma participação plena na sociedade. Essa participação remete aos deveres, que são as responsabilidades de cada pessoa na vida em sociedade. Nesse sentido, a cidadania traz consigo a dinâmica do processo, pois muito direitos são garantidos no ‘papel’, mas não são efetivados, devido à disparidade social. Direitos inclusive na dimensão da saúde. O SUS como projeto é muito bem elaborado, tanto é que os próprios norte-americanos o invejam. A questão é que no seu desenvolvimento ele não garante saúde de forma universal para a população. São constantes as reclamações de pessoas que tem que pagar ‘por fora’ para ter este atendimento. Os investimentos realizados são direcionados para a área da medicina de alta complexidade, dando margem para muita corrupção, mas não se investe suficientemente na medicina preventiva, que possivelmente implicaria em gastos menores. Saúde é um direito de todos, mas precisa ser garantida!
Quem ainda não ouviu a expressão que: ‘a saúde começa pela boca’. Nesse aspecto entra a questão da alimentação saudável, pois não basta ter comida para todos, o que já é um direito universal, também falho na prática, mas é preciso que seja uma alimentação saudável, rica em proteínas e demais nutrientes necessários à vida humana. Portanto, é preciso ter cuidado com a alimentação, não em sentido individual, mas como um direito universal de todo cidadão. É nosso dever provocar esta reflexão e, da mesma forma, ações que possam mudar o panorama atual.
Cleber Pagliochi e Daniel Feltes