A classe política anda muito desacreditada, tanto pela irresponsabilidade perante a função vital que lhe cabe, quanto por uma campanha midiática de criminalização da política. Observamos com frequência a expressão: “político é tudo igual, tudo ladrão”.
O filósofo Enrique Dussel, na obra Política da Libertação (2009), destaca que a corrupção não envolve apenas dinheiro como nos parece, mas uma denominada fetichização do poder político, ou seja, ocorre uma perversão, uma inversão de fundamento que é para ele a raiz de toda a corrupção política.
O fundamento a que se refere Dussel, é a comunidade política. Para ele, o “querer-viver” da comunidade política é a sede, a fonte do poder. Para que o poder político seja exercido, não basta apenas a vontade da comunidade política, mas que ele seja concretizado pela mediação das instituições (poder legislativo, executivo, judiciário). Estas por sua vez, são mediações, instrumentos necessários e quem está à frente delas, o está de forma delegada, ou seja, exerce o poder político não em seu nome próprio, mas em nome da comunidade política (ao menos deveria ser), porque na medida em que delegamos o poder ao representante, não significa que ele nos foi tirado, muito pelo contrário, ele nos pertence e somos responsáveis por ele.
Dussel aponta que historicamente as instituições e os políticos eleitos, tornaram-se autorreferentes, declarando-se a origem do poder político desligaram-se de sua origem, a comunidade política. Aqui estaria a raiz primeira da corrupção: os governantes consideram-se a fonte do poder político e por isso se autorizam a operar em vista de seus interesses próprios, na maioria das vezes em desacordo com a função primordial da política, de promover, aumentar e garantir a vida humana de todos os cidadãos.
O Deputado Eduardo Cunha, ao realizar manobras a todo instante, para garantir seus interesses individuais e do grupo que o sustenta com todo esse poderio é um exemplo da fetichização do poder. A presidenta Dilma Rousseff, foi muito feliz em um de seus pronunciamentos ao dizer que o lado certo da história é o da democracia. Por isso, pensar uma lógica de um poder-serviço onde os representantes assumam os interesses da maioria da população é construir um poder delegado legítimo, mais próximo de uma democracia participativa, o que não se percebe no governo interino de Michel Temer, que explicitamente quer impedir os canais e instrumentos de participação popular das decisões políticas.
*Por Junior Centenaro