29/08/2016

Nos palcos da vida a história se faz... Protagonismo juvenil!

Protagonismo! Expressão que pode ser facilmente compreendida quando diretamente relacionada ao teatro. Neste, encontramos diferentes funções, incluindo artistas principais e figurantes, bem como expectadores. O dicionário define protagonismo como: “qualidade da pessoa que se destaca em qualquer situação, acontecimento, exercendo o papel mais importante; personagem principal”. Considerando os palcos da vida, ninguém pode ser mero expectador, ficar passivo “vendo a vida passar”. Numa sociedade marcada por diferentes disputas e com um histórico de desigualdade e injustiça social o jovem é convocado a assumir sua missão, o seu papel transformador. Dito isso, o que implica ser protagonista?
A fase da juventude é marcada por intensas buscas e descobertas. Não é algo passivo, mas um processo de construção da identidade, da autonomia, de ser sujeito, que assume suas particularidades em cada pessoa. Ser jovem não é adjetivo, mas sujeito! A evangelização das juventudes é o trabalho de educar para a liberdade, de possibilitar consciência crítica, para que os jovens possam assumir e transformar sua história. Ao longo da trajetória do povo de Deus encontramos vários registros de jovens que assumiram seu protagonismo que iluminam a caminhada atual.
“Na vivência do protagonismo juvenil está a Teologia do Êxodo. A Teologia da saída de um mundo de dependência para um mundo de liberdade. De um mundo fechado sobre si para abrir-se às relações, sem perder a identidade”. – DICK, Hilario. É bastante emblemática a figura de José do Egito. Ele era o filho mais novo e o mais amado de Jacó. Por motivos de ciúme e raiva, os outros irmãos o vendem como escravo. No Egito, torna-se administrador do palácio do faraó, proporcionando mais tarde uma reforma agrária, beneficiando até mesmo seus irmãos que o haviam maltratado. É um retrato de um jovem que, em meio às dificuldades de seu povo e de sua vida, vai construindo sua história, sua identidade e até mesmo transformando o povo ao seu redor. Mas claro que também há o perigo de se influenciar negativamente pelo sistema dominante, repetindo a mesma opressão que foi vítima. Protagonismo está diretamente relacionado com justiça, libertação e superação da opressão. Também está ligado a construção coletiva. O protagonismo isolado de um processo participativo, do reconhecimento da alteridade (DGAE 11 ), cria autoritarismos perniciosos e contrários ao projeto do Reino. 
O tempo da juventude é uma epopeia da busca e da conquista. O jovem que não sai de si (não sai do Egito) e não busca mover-se nas relações e organizações, além de não acreditar em si, é alguém que está fadado a não encontrar-se no protagonismo para o qual foi feito. Querer que o jovem seja protagonista de si ou de sua organização é querer que ele seja ele, ficando evidente que uma identidade nunca vai contra a identidade do outro. Para afirmar essa “identidade” é claro que o jovem vai negar submissões, qualquer que ela seja. Veja-se a história do filho pródigo (Lc 15, 11s). Um grande desejo do jovem é a autonomia. Ele também precisa aprender a ser livre, mesmo errando. Jesus Cristo sempre respeitou as instituições, mas nunca sacrificou sua liberdade ante elas. Recorde-se a liberdade ante Herodes (Lc 13, 31s), a liberdade e severidade frente às autoridades religiosas (Mt 23, 13s), a liberdade ante o preceito do sábado (Mt 2, 27). DICK, Hilario.
O jovem, como um corpo e ser em construção, é um santuário de Deus, é divino! Pensar no processo de construção da identidade, de autonomia, enfim, do protagonismo é colocar-se a caminho com a juventude, é sair do Egito, compreendendo e amando-a. Vendo-se nela e com ela. Longe dessas palavras, afirmar que protagonismo é algo fácil, simples, mágico. É processo! É caminho! É mistério e encanto. É, também, Deus.


Imagens: Obras de Luís Henrique Alves Pinto

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